O que significa ser uma doula na prática? - Reflexões e dicas preciosas de Dorothe Kolkena, doula em Campinas


"Being a doula means taking EVERYTHING you are, everything you have learned about life, and channeling it in your own way to provide the best possible support for a family. It means working to give the birth-experience back to the people it belongs to. It means learning (sometimes the hard way) that the forces of life…..and of death….are to be given the utmost respect. To be present at this time, this unfolding of lifes mystery, is the ultimate privilege." (Darlene, doula)

Após quase dois anos trabalhando como doula gostaria de compartilhar algumas experiências e passar algumas dicas práticas sobre o papel da doula. Os motivos que nos levam a exercer essa profissão podem ser vários e todos viáveis, embora acredito que motivos econômicos sejam os menos viáveis.

Gravidez e parto são experiências extremamente marcantes e transformadoras na vida de uma mulher, no sentido físico, emocional e até espiritual. Ajudar mulheres a passar por isso de forma positiva foi o meu motivo para começar a trabalhar. Sendo assim, ser doula deixa de ser uma simples profissão e torna-se uma postura de vida.

Ser doula exige de você ter SEMPRE o maior respeito pelas escolhas e decisões que o casal ( às vezes junto com você e/ou obstetra) tomam. Pois nem sempre são as escolhas ou decisões que você tomaria. Para isso ser possível, você tem que saber ouvir, conversar e ficar longe de qualquer tipo de julgamento.

Sempre parto do princípio de que cada mulher tem uma capacidade inata de parir, ela faz parte da nossa natureza como mulher. Portanto, idealmente, ela não precisaria de ajuda para passar pelo processo de trabalho de parto e parto e qualquer tipo de intervenção acaba sendo prejudical.

Na nossa sociedade ocidental, principalmente na brasileira, por motivos que poderiam ser abordados em outro artigo, a mulher acabou se afastando parcial ou completamente desta sua natureza e precisa de ajuda na hora do parto. Para poder ficar o mais perto possível da sua propria natureza, a parturiente precisa de formas de ajuda com um nível mínimo de intervenção. É aí que a doula entra no processo.

Usando intervenções de um modelo holístico de apoio, ela pode ajudar a parturiente para que esta não precise entrar no modelo tecnocrático de intervenção (veja Robbie Davis-Floyd). Ou seja, a doula ajuda a parturiente a lidar com a dor com meios não-farmacológicos. Ajuda a adiar, ou até mesmo a dispensar a introdução de meios farmacológicos de alívio de dor. Com isso, ela ajuda a parturiente a resgatar a própria natureza. Portanto, sempre procuro sentir como a parturiente está, se ela realmente precisa de alguma AÇÃO minha, ou se está conseguindo prosseguir bem sozinha. Neste caso, não intervenho, respeito o processo.

Para ser uma boa doula então temos que ser boas observadoras. Para ser uma boa observadora na hora do trabalho de parto e parto temos que treinar a nossa capacidade de observação no nosso dia-a-dia. Observar como eu estou, como o meu companheiro está, meus filhos, meus colegas, amigos, a minha casa, o meu trabalho etc. Com esse treino, na hora do trabalho de parto saberemos reconhecer o que a parturiente precisa, pois ela nem sempre se expressará de forma verbal.

Reconhecendo o que ela precisa precisamos agir com iniciativa, ou seja, saber o que tem que ser feito e fazer o que tem que ser feito, na hora certa, na medida certa, para a pessoa certa. Porém sempre com senso crítico sabendo avançar e recuar na hora certa.

Vão surgir momentos nos quais você precisa perceber que a parturiente não está querendo ouvir suas palavras, não está querendo sentir o seu toque. Ela quer ficar sozinha, quer ficar com o companheiro ou só com o obstetra. Aí nós temos que nos afastar delicadamente para que o outro possa entrar. Vão surgir momentos que as suas palavras ou sugestões precisam ser dirigidas ao companheiro, para que ele possa aproveitar plenamente o papel dele.

Em outros momentos vamos ter que nos comunicar com a equipe médica, teremos papel de intermediários, sugerindo métodos de alívio de dor, expressando o que a parturiente quer, perguntar se é possível isso ou aquilo, porém sempre pedindo com muito respeito e jeitinho, pois o nosso papel não é médico.

Se trabalhamos numa mesma equipe sempre é bom ter conhecimento dos protocolos do obstetra, pediatra, enfermeira obstétrica. Para poder explicar para a parturiente e companheiro o que está acontecendo ou o que vai acontecer. Nunca engane a parturiente sobre o progresso do seu trabalho de parto dizendo que está ótimo e que daqui a pouco já vai nascer quando não é o caso. Seria uma grande falta de respeito e cabe ao obstetra avaliar. Por outro lado acredito que a palavra 'não' deve ser usada com moderação.

Precisamos ter no mínimo conhecimentos básicos de obstetrícia, primeiros cuidados com o bebê e amamentação e sobre protocolos de hospital. Em primeiro lugar para não ficarmos perdidas e também para poder oferecer, quando solicitado, várias alternativas para que a parturiente possa, em conjunto com seu obstetra ou pediatra, tomar a melhor decisão para ela e o seu bebê.

Pode chegar a acontecer que a parturiente ou mesmo o companheiro começe a gritar com você, xingar você, ou talvez negar a sua presença. Não se sintam magoadas. Entendam que faz parte do processo e que não é pessoal. No caso de ela começar a gritar com o companheiro, teremos que explicar isso para ele e sugerir meios para que ele se possa se sentir útil e não rejeitado.

Sugiro que tenham contato com a parturiente e companheiro durante a gravidez para os três se conhecerem e verem se têm empatia. Isso ajuda no desenvolvimento do trabalho de parto e parto, embora não seja um pré-requisito.

Assim como esse contato na gravidez, seria bom manter contato também nos primeiros dias pós-parto. A maioria das mulheres sente necessidade de reviver a experiência do parto com uma pessoa que estava próxima. Às vezes conseguem contar coisas para a doula que não contam para os respectivos médicos. Esse contato serve de avaliação para você!

O nosso compromisso é com a parturiente e o companheiro!

Algumas dicas práticas

- levar malinha "mágica" com tudo que você poderia estar usando (veja artigo sobre a bolsa da doula)
- levar uma troca de roupa para você, pois dependendo do lugar você pode se molhar se a parturiente decidir usar o chuveiro ou a banheira;
- tenham consciência de ter que seria bom formar um 'grupo de apoio' para você, pois às vezes temos que sair correndo no meio da noite ou de madrugada e não teremos hora para voltar! Quem vai cuidar dos nossos filhos?! (veja artigo sobre pré-requisitos para ser doula)
- Sempre façam uma avaliação depois do parto. De preferência com a equipe que atendeu. Se isso não for possível, façam uma auto-avaliação, anotem e aprendam para o próximo parto.

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